terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Saindo de Porto Velho

Relembrando: - depois de arrumar o carro, resolvi que partiria naquele momento, num belíssimo final de tarde. Era melhor que, ao amanhecer, já me encontrasse bem longe, me impedindo de arranjar desculpas para adiar a partida.

E assim foi feito. Pelo horário, ainda daria para pernoitar em Ji-Paraná. Telefonei para o Alex, um ex-funcionário e amigo que mora naquela cidade, pedindo que providenciasse a reserva em hotel, pois com a feira agropecuária que iria se iniciar no dia seguinte, havia problema de hospedagem. Ligação feita, reserva confirmada, pé na estrada.

Saindo de casa as lágrimas emergiram. Foi um choro silencioso num por do sol cinematográfico, daqueles que eu curti muito voando de ultraleve. Parece que os anjos que me acompanhavam nos vôos de fim de tarde, resolveram me saudar com aquele visual do adeus.


Mais emoção ainda quando, olhando para o lado, vi o Jair no seu "Borboleta Deslumbrada" - apelido que dei ao jipe Javali pintado na cor amarelo ouro - andando em ala comigo, como fazíamos nos ultraleves. Estava perto o suficiente para eu perceber que nele também as lágrimas escorriam no adeus de um amigo-irmão que compartilhava as alegrias, tristezas e, vez por outra, muita briga.

Momentos vividos como disse o Mello ainda ontem: - "O tempo passa e passamos a contar histórias por nós vividas. E como é bom. Posso entender plenamente o que quis dizer em sua cronica, e fico feliz em fazer parte destes bons tempos, das nossas reuniões em volta de uma mesa farta, conversas paralelas que temperaram nossas amizades".

O Brian, permitido ficar no banco da frente até Cuiabá, estava impecável, com cinto de segurança e um olhar ao longe, como que respeitando a minha dor da despedida. Ainda bebê, mas já um cachorrão, sentia que aquela saida de carro era diferente das tantas outras em que nos acompanhava nas visitas ao Mello - principalmente para repartirmos o almoço de domingo (ele com seus dotes culinários de "Chef" e eu com meus dotes consumistas de "Client" do churrasco "Assados na Brasa"). Ele se comportava direitinho nas idas à padaria, super-mercado, Jeep Clube e tantos outros. Poderia não saber exatamente do que se tratava mas, seguramente sentia, por intuição animal, que seria uma longa viagem. Tão longa que provavelmente não mais retornaria.

Saindo da cidade, lágrimas enxugadas, agora era pensar no pernoite em Ji-Paraná. Seriam 400 km de estrada relativamente boa para uma viagem diurna. A noite, pois estávamos saindo as 5 da tarde e não demoraria muito para escurecer, a estrada era perigosa, intercalando bons trechos com asfalto liso, e outros, repentinamente, com uma buraqueira daquelas de empenar roda e cortar pneu. Assim, sendo de noite, não se podia entusiasmar e cair na "armadilha das crateras sapos" (elas surgiam tão de repente que pareciam sapos pulando do acostamento diretamente na frente da roda do carro).

Numa viagem lenta mas segura, sem que ninguém nos ultrapassasse pois todos deveriam ter pensado na mesma atitude, chegamos por volta das dez e meia da noite e o Alex já estava nos esperando para papearmos um pouco, matando a saudade e falando de planos para o futuro. Foi rápido, mas foi muito caloroso.

O recepcionista do hotel também já esperava por mim e pelo Brian, com expressas recomendações de que o "cachorrão" não fizesse barulho. Prometi que ele seria bem comportado, pois ainda bebê, nem sabia latir. O recepcionista fingiu que acreditou e lá fomos nós quarto a dentro, descançar de uma viagem estressante pelo emocional, por ser noturna, pelos buracos e pelo constante cuidado que eu tinha para o Brian não se machucar em cada freada repentina em cima de um buraco desavisado.

Estava tão cansado que nem tive tempo de me arrumar muito. Foi deitar e "chinar". O Brian? Não tenho a menor idéia de como ele dormiu. Tinha colocado a ração e antes que ele terminasse eu já estava nos braços de Morfeu - o deus grego dos sonhos.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sempre que deixamos um lugar onde vivemos por algum tempo, também deixamos amigos, lembranças e, no adeus, incontidas lágrimas, algumas antecipando saudades, outras de alegria para enfrentar um futuro planejado, na esperança de que tudo venha a transcorrer a contento. Abraços do Mello