quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Chegando em São Luís

Chegar em São Luís foi uma odisséia: da emoção da despedida de Porto Velho, da tristeza na passagem por Belém até a angústia na chegada. No meio de tudo isso as peripécias do Brian nos postos de gasolina; ficarmos estressados quando chegávamos a noite e, por isso, invariavelmente nos perdíamos, sem contar o roda-roda, até encontrarmos um hotel, pelo menos razoável no preço, na higiene do quarto e banheiro, e que aceitasse a permanência do Brian; arranjar um restaurante para fazermos uma boa refeição, muitas vezes já bem tarde da noite - o jantar era a única refeição do dia, depois de um café da manhã bem leve e um lanche simples na hora do almoço.

Mas chegamos e, mesmo com muitas dores e ansiedades, chegamos bem, já sentindo, na iluminação de São Luís ao longe, todo um reinício de vida que se desnudava. E com esta perspectiva, vendo a cidade ficar cada vez mais próxima, íamos contando o tempo que faltava para que o "Ferry" atracasse na capital maranhense.

Atracação feita, fomos até o carro. "Os últimos serão os primeiros" - como fomos os primeiros a entrar, seríamos os últimos a sair. Era a resposta bíblica para nossas aflições de viver um desconhecido que estava se delineando. E com calma, tateando por um cidade que não conhecíamos, já quase 11 da noite de um sábado, fomos em busca do hotel que havia sido reservado para nos abrigar na chegada.

Por coincidência o hotel ficava no nosso caminho de entrada na cidade, depois que cruzamos a Ponte José Sarney, sobre a foz do rio Anil, dentro da ilha. Cruzamos a ponte, vimos a grande placa do hotel, encostamos e já agradecendo aos céus pela facilidade depois de tampo tempo de estrada.

Surpresa!!! Os agradecimentos foram cedo demais! Tudo certo mas o hotel se recusou, terminantemente, a aceitar o Brian como hóspede. 11 da noite, cansados e sem ter onde deixar o cachorro. Alopramos e partimos para procurar um hotel que aceitasse aquele que tinha se mostrado um grande companheiro nesses 5.000 km viajados.

Depois de mais de uma hora rodando meio sem rumo, quase sempre perdidos numa cidade nada fácil de andar, tendo recebido negativa em todos os hotéis que encontrávamos, desistimos e retornamos ao hotel da reserva - tinha sido o de melhor custo/benefício. Fomos tentar mais uma insistência de convencimento. No meio da conversa, ainda na recusa intransigente, o recepcionista do hotel nos disse:- porque não levam o cachorro para um hotel de cães aqui do lado? Pensei: esse cara é um louco sádico, e só faltei esganar o indivíduo.

Todos sobrevividos, tudo resolvido, acomodados, banho tomado, estresse nos picos, já eram quase duas horas da manhã, e eu nem conseguia mais dormir. São Luís me tinha feito uma recepção conturbadíssima. Como será que o Brian estava enfrentando tudo isso no seu "hotel"?

Enquanto não conseguíamos alugar um casa, e como ficar em hotel seria muito dispendioso, o jeito foi alugar um "quarto & sala", já mobiliado, próprio para veranistas em temporada, que agora estava bem mais barato pois iniciava agosto. Naquela "kitch" - como ficaria conhecida entre nós e nossos amigos - ficamos bem instalados, em boas condições de produzir o material para implementação de nosso projeto na faculdade.
Mas, para que tudo funcionasse a contento, precisaríamos de uma auxiliar para cuidar da "kitch" e, principalmente, do "cachorrão".

Foi aí que toda uma nova era começou: a clara necessidade de uma empregada doméstica. Mas nunca nos passou pela cabeça que, naquele momento, estávamos "nos conectando" com Alexandre Dumas.

E, como que surgindo do nada, adentrando nossa casa, a nossa intimidade do lar, chega a Ana Alice, a Ana, a "Empregada". Originalmente trabalhando na casa do primo da Francisca, o Jelmiro e a Giselda, nos foi gentilmente "cedida" para superarmos aqueles momentos iniciais. Desses momentos iniciais já se vão três anos e meio. Era a chegada do "D'Artagnan de saias", com capa, espada e tudo o mais que ela tinha direito, para se juntar aos "Três Mosqueteiros".

Amanhã vocês vão conhecer o perfil dessa "jóia rara" - a cativante Ana Alice, conhecida como Ana - a "Empregada" - o terror do Patrão, da Patroa e do Cachorrão.

2 comentários:

Anônimo disse...

Uma mudança é sempre mudança, quer de coisas de um lugar para outro ou de domicilio, este com todos os transtornos inerentes, arruma antes, desarruma depois, acomoda aqui e ali, procura, não acha, encontra, no fim, devidamente estressante.

O Briam, que conheci desde sua chegada via Varig, e de cujo batismo participei, fiel companheiro, com aquele eterno olhar "borococho" em sua canina mentalidade deve estar se perguntando o que esta realmente acontecendo? Mas no seu abanar de cauda, agradece a atenção de seus dedicados donos

Anônimo disse...

Foram muitas horas de tensão e expectativas até chegarmos a São Luís.

De Cuiabá a aventura já iniciou para mim. Cheguei ao hotel combinado e reservado - lá não estava meu "nominho" na lista de reserva.

Quis,a princípio, matar o Murilo e o Jair.

Mas, telefonema vai, telefonema vem, conseguiram me encaixar num bom apartamento para esperar pelo Murilo e o Brian que estavam vindo de "Fiat Mille" de Porto velho e chegariam logo mais à noitinha.

Imaginem a aventura que iniciaria daí por diante.

Estrada esburacadas, ermas, escuras, sem identificações de onde ou de quantos kilometros estavarmos de algo para trás ou para frente - uma loucura.

Mas, Deus é Pai e no meio desde Brasil tinha um Brazil lindo de se ver. Cidades e plantações a indicar que tinha gente com vontade de trabalhar e de mudar este horizonte.

Todo isso despertava em nós um misto de desânimo e vontade de acreditar que temos "futuro". E vamos em frente que atrás ficava um poeirão e pra frente tinha umas crateras enorme a serem vencidas.

Foi cansativo.

Foi, também, muito alentador saber que no meio do nosso querido e surrado país existe um mundo se formado, mesmo que os "homens de preto" de Brasília trabalhem contra.

Visões de plantações de algodões coloridos, soja verdejantes, gados branquinhos, enorme fábricas de laticínios, cidades nascendo, gente corada de sol da labuta - extasiantes.

Visões feias também, desanimadoras de um povo ao largo das estradas e manipulados por grupos que ficaram presos no passado e se aproveitam das misérias para se locupletarem, espíritos errantes,sem mundo - lamentável.

Mas, entre dores e cores íamos aproveitando para fazermos uma grande revisão de história e geografia que nos fazia voltar para um passado gostoso e saudoso - a adolescência, a juventude.

A vida é como é.E ela vai ser dor ou cor dependendo do ângulo que olharmos a realidade.

A nossa realidade, da família "quixotiana", é cor e cremos que deva ser sempre cor porque temos uma infinidade de "coleções coloridas" para darmos os matizes que desejarmos.

Chegamos em São Luís e a aventura continua...