quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Ganidos Homógrafos

Nossa viagem de carro, que mais pareceu uma aventura expedicionária pelos rincões do mundo, embora cheia de momentos interessantes, nos faz trazer para os leitores apenas o contexto que lhes permita melhor avaliar o "porque" e o "como" acontece essa relação de convivencia necessária entre o patrão, a patroa, a empregada e o cachorro.

Por exemplo, como entender o "cachorrão" sem saber que ao longo dos 3.500 quilômetros que percorremos no trecho de Cuiabá à Belém, ele foi humilhantemente designado a ocupar o "palmo" de espaço no banco traseiro e que neste espaço ele tinha, frequentemente, o monitor do computador caindo por cima dele?

Sabíamos, graças a um "ganido" que ele criou especialmente para definir que tinha sido esmagado. Era um "ahum", bem agudo, que em tradução do "cachorrêz" significava, mais ou menos: - Eih pô!!! Essa merda caiu de novo na minha cabeça!!! E, se passássemos a mão, este mesmo ganido era repetido agora com um novo significado: - Não me agradem passando a mão, que o cucuruto já tá-que-tá. São os conhecidos "ganidos homógrafos" - sejam animais ou humanos.

Vocês podem não acreditar que um único ganido possa dizer tudo isso, mas eu afirmo que pode. É como quando alguém te pede ajuda para carregar um botijão de gás, de 13kg, cheio, e deixa ele cair em cima do teu pé, logo do teu que estava prestando um favor e você diz tão somente e suavemente um grunhido no som de - Putz. Não queiram que eu descreva todo o significado deste "Putz". Pois é, era assim com o ganido do "cachorrão".

Da mesma forma aprendemos que se tem hora para cada atividade. Por exemplo, soltar o "cachorrão" num posto de gasolina de beira de estrada para fazar "pipi", e querer que ele termine tudo bem limpinho, sem óleo nas quatro patas, como se fossem quatro rodas, graxa nos pelos da barriga como se fossem gaxetas, pó de barro nas costas como capô e, depois dessa imagem repugnante, você ver o "monstro" correr para cima de você, trotando como se fosse um equino, balançando as grandes orelhas como se fosse um gavião querendo alçar vôo e, finalmente, pular no teu colo, como se fosse um recém nascido, banhado e cheiroso. É aí, neste doce momento, que percebemos que nossos instintos homicidas estão apenas latentes e, como o gênio da garrafa, implorando ser libertado.

Um comentário:

Anônimo disse...

Com a WEB, matamos saudades.
Ontem Solano que chegou de 9000 km em motocicleta, relembrou a aventura no J6 tendo Murilo como navegador nas escarpas dos Andes.
Assim, a narrativa da viagem PVH/Belém vale pelo emocional, amigos e o passado vivido que ficou para trás, com certeza, a lembrança do Rogger.