quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Eu - o patrão

Depois de arrumar o Fiat Mille 1995 com bagagens até o teto, deixando um micro espaço no banco de traseiro para acomodar o cachorro, resolvi que partiria ainda naquele final de tarde. O aperto emocional estava muito forte pois sabia que estava deixando para trás o cenário dos melhores momentos da vida.

Aqueles momentos começaram com a profunda aprendizagem espiritual, na convivência com o Mestre Jean Carlo e o Flávio Sgarbi - que coordenava nossa "Sopa do Sgarbi", uma vez por mês no GEFA, concorrendo com a famosa "Sopa do Micharia" na Av. Pinheiro Machado. Lembranças maravilhosas das amigas tão especiais e inesquecíveis como a Dulci, minha grande madrinha e irmã de alma, a "dondoca" Ilcléia que acreditou no nosso trabalho com as palestras e a querida Patrícia "a patricinha", grande estímuladora para as visões das diversas abordagens de um mesmo tema, cada uma nos gerando especiais aprendizados e, por tudo isso, elas nunca serão substituidas em nossos corações, deixando uma grande lacuna de amor e carinho. Claro que também nos marcaram o Pedro Barbosa e Cleônice na sua missão como dirigente da Federção Espírita e do Centro Bezerra de Menezes, o Elarrat que também nos acompanhou academicamente na FARO, o Trindade - companheiro das tardes de quartas-feiras, Luís Adão e Luís Pontes de inúmeras e construtivas conversas no meu pós-UTI, e tantos outros amigos que nos ajudaram na semeadura que certamente dará farta colheita nas próximas encarnações.

Independente dos contratos que tinha com mais seis empresas de telefonia do sistema Telebrás, Rondônia, especialmente, me abriu as portas e me deu condições de fazer crescer a empresa e, pelas condições de um estado novo, também crescer pessoalmente. Pena que num determinado momento nossa integridade moral que tanto foi referência para a segurança de nossos serviços, passasse a ser um entrave e, na intransigência, optaram por ser "deletado" da relação de fornecedores, com a rescisão unilateral de todos os contratos que estavam em andamento - me lembrando do famoso "corta e apara" quando, com o tio Edson, empinava "papagaios" - hoje "pipas" -no terraço de casa na Rua Farias Brito em Belém. Quanta coisa aprendi naquele episódio.

Mas esta lembrança ruim que foi superada pelas saudades das pescarias com uma turma muito boa, na Represa de Samuel, nos rios Jamari, Verde, Candeias, Machado e tantos outros pesqueiros maravilhosos daquela região, a maioria deles a bordo da minha adorável "Babalu" - uma voadeira de alumínio, especialmente encomendada para atender aquilo que é fonte de desejo de todo pescador esportivo de isca artificial.

Também me veio à lembrança a excelente estação de radio-amadorismo que tinha montada e que me permitia contatos maravilhosos quando ainda nem existia o Skype, e que levava o radio móvel para operação durante os dias de pescaria e nas noites que o cansaço físico e a desidratação do dia no sol nos "derrubava", aproveitava para papear madrugada a dentro.

E os jipeiros e nossas aventuras, que culminou na fantástica expedição solitária que fiz como copila do jipeiríssimo Solano, 4x4 de mão cheia, chegando a Cuzco/Machu Picchu, subindo a cordilheira dos Andes a partir de Rio Branco/AC. O grupo de jipeiros do Jeep Clube de Porto Velho é fantástico e, deles, o único ponto doído foi a imensa saudade que deixou no meu peito.

Mas não foi só isso. Como esquecer daquilo que foi minha grande realização - o sonho dos sonhos - a grandeza e o prazer de voar. O vôo de ultraleve básico, aquele que te toca a alma e provoca adrenalina na medida certa. Aquele prazer que não apenas nos levanta, mas nos enleva, nos faz chegar ao nirvana. Voar esportivamente, de ultraleve básico, e chegar bem próximo da divindade.

Amigos como o Mello, Jair, Solano, Helder, Cássio, Postigo, Walter, Maurílio, Edmundo e tantos outros que não dá nem para relacionar, pesaram tanto quanto suas massas neste meu peito meio derrubado pelos anos e pelo erro de um médico maluco, o que me fez passar seis dias numa UTI - talvez este tenha sido o único fato pessoal negativo em toda minha permanência na querida Rondônia. Mas depois de vinte anos vivenciando "de canudinho" aquelas plagas, acho que seria muito não admitir nenhuma falha, pois do jeito que um médico doido quase me mata, outro médico, competentíssimo, me trouxe de volta.

É, nessa viagem eu estava deixando para trás os melhores e mais vividos momentos da minha vida, com aquela intuição de que eu não voltaria mais.

Como estes meus devaneios se prolongaram, vamos deixar para continuar amanhã, no nosso próximo encontro.

Um comentário:

Anônimo disse...

É mano, só faltava eu nessa fase de ouro da sua vida... Fiquei até com inveja! (rs)